CANÇÃO ELEGÍACA
Quando os teus olhos fecharem
Para o esplendor deste mundo,
Num chão de cinza e fadigas
Hei de ficar de joelhos;
Quando os teus olhos fecharem
Hão de murchar as espigas,
Hão de cegar os espelhos.
Quando os teus olhos fecharem
E as tuas mãos repousarem
No peito frio e deserto,
Hão de morrer as cantigas;
Irá ficar desde e sempre,
Entre ilusões inimigas,
Meu coração descoberto.
Ondas do mar - traiçoeiras
A mim virão, de tão mansas,
Lamber os dedos da mão;
Serenas e comovidas
As águas regressarão
Ao seio das cordilheiras;
Quando os teus olhos fecharem
Hão de sofrer ternamente
Todas as coisas vencidas,
Profundas e prisioneiras;
Hão de cansar as distâncias,
Hão de fugir as bandeiras.
Sopro da vida sem margens,
Fase de impulsos extremos,
O teu hálito irá indo,
Longe e além reproduzindo,
Como um vento que passasse
Em paisagens que não vemos;
Nas paisagens dos pintores
Comovendo os girassóis
Perturbando os crisantemos.
O teu ventre será terra
Erma, dormente e tranqüila
De savana e de paul;
A tua nudez será fonte,
Cingida de aurora verde,
A cantar saudade pura
De abril, de sonho, de azul
Fechados no anoitecer.
(Signo Estrelado, 1960)
JOAQUIM CARDOZO
(1897-1978)
Nacido en Recife, estado de Pernambuco, Joaquim Maria Moreira Cardozo murió en la histórica ciudad de Olinda. Ingeniero, ha sido el profesional preferido por Oscar Niemeyer para los cálculos estructurales de su avanzada arquitectura. Quizá tal hecho explique, de entrada la obra del poeta. Poesía bella y limpiamente compuesta, primorosa e innovadora, sin menoscabo de la tradición. Con fina sensibilidad suma a sus exquisitas metáforas valores regionales y folclóricos. Su tierra del Nordeste se hace presente, transfigurada con delicadeza oriental. No es de extrañar que uno de los deleites del poeta haya sido la traducción de poemas chinos, desde el original. Así puede hablarse de una "arquitectura verbal", con la emoción despejada y contenida, libros compuestos a modo de un único poema, rehaciendo la trayectoria lírico-sentimental de su ciudad, de los campos y del cielo, un mundo siempre abierto a lo universal. Son hitos admirables de su sensible quehacer lírico Prelúdio e Elegia de Uma Despedida (1952), O Signo Estrelado (1960) y O Coronel de Macambira (1963), pieza teatral según los autos medievales y las trovas populares dei Nordeste. JOSÉ SANTIAGO NAUD